quinta-feira, 17 de junho de 2010

Só, somente só.

E quando ela acordou, olhou para aquele teto branco, aparentemente limpo, nas paredes, apenas marcas de quadros antigos. Satisfeita por ter se desfeito daquele cansaço que tanto a consumia. E desesperada por lembrar que teria o dia todo pela frente, porém, nada com que novamente se cansar.


O silêncio pulsava em seus ouvidos, forte como as batidas das músicas eletrônicas que embalaram momentos frenéticos, que beiravam a loucura, mas que não traziam a solidão. Solidão que sentiu ao perceber que o que pulsava, era seu coração, tão intenso e melancólico, que a impossibilitava até mesmo arriscar alguns movimentos com a cabeça, para se sentir no ritmo.

Arrastou-se até o banheiro como se estivesse coxa, se pudesse, se não soubesse que se sujaria, queria ser empurrada para o chão e rastejar-se como um réptil até o espelho mais próximo, a fim de lembrar-se de quem era, ou se tornaria.

Nada melhor que a água. Água para beber, para se lavar, para demaquilar, para desmascarar. Aquele encontro fora evitado por algum tempo, mas sem qualquer outra alternativa, a hora tinha chegado. Via-se então frente a frente àquele reflexo familiar, tinha um cheiro nostálgico, mas não necessário, melhor seria se nem cheiro tivesse.

Olhos nos olhos,se perderam na profundidade daquele momento, e quem teria a primeira reação? Sem a menor dúvida de que seria ela, passou sua mão por entre os cabelos, desviando o olhar, evitando assim fitá-la novamente. Acariciou –se o rosto, as bochechas, sim, esta é a melhor parte, mais macia, a mais terna,naquele momento, muito suscetível ao carinho .

Hora da verdade. Afinal, quem é você? Você que invade meus pensamentos e me deixa assim, com vontade de me afundar no silêncio de um aquário, sem nem precisar nadar, apenas abrir ou fechar os olhos e boiar. Boiar como um corpo que ao ser jogado para o fundo, e sem lutar contra, é jogado para cima, pura inércia, só para boiar.

Pra que você chega assim sem avisar, simplesmente chega e se aloja, num lugar que nem é seu, mas que obscuramente você se apossa, de uma maneira ou de outra.

E as lágrimas caem, o desespero toma conta. E ninguém ali pra te ouvir, sequer ouvir te berrar por um pedido de atenção, alguém pra te fazer um chá de camomila e depois te abandonar novamente. Ao menos lhe demonstrou preocupação.

É . Não tem ninguém. Ninguém além de você, e sua cópia que reflete no espelho e te olha, te ouve. Mas não te ajuda. Nem te faz um chá. Mas também não te abandona.

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